Hoje bateu uma inspiração e resolvi escrever um pouco sobre alguns processos corrosivos que rolam naturalmente em carros antigos. Em posts anteriores contei a vocês sobre o avanço metalúrgico que levou ao uso de aços com resistência superior a corrosão. Além disso, foram feitas modificações da ordem de design para melhorar ainda mais a durabilidade dos automóveis, um exemplo disso, são os vidros colados que evitam com muito mais eficiência que fique alguma água retida em seu interior como as antigas borrachas de encaixar.
Explicando de maneira bem simplificada, a corrosão automotiva ocorre basicamente por processos conhecidos como eletroquímicos. Esses tipos de corrosão precisam de três itens para que possam acontecer, duas regiões com potencial diferente (metais diferentes, por exemplo), um contato elétrico entre elas e por fim, um eletrólito (água da chuva, por exemplo). Abaixo dou alguns exemplos de proteções e problemas relacionados a corrosão nos carros:
- A tinta do carro evita que o eletrólito (água) entre em contato com o metal evitando o processo corrosivo, falhas na tinta criam regiões com potencial mais baixo que levam a corrosão. A tinta, no entanto não é impermeável como muitos pensam, ela deixa pequenas quantidades de água para o seu interior. Pinturas realizadas sem a adequada limpeza (sobrando algum pó solúvel em água) faz com que um processo conhecido como osmose acelere a passagem da água, formando corrosão sob a pintura, já viram aquelas "bolhas" de ferrugem?;
- O uso de parafusos e escapamentos em inox podem acelerar o processo corrosivo no aço da lataria na região próxima ao contato elétrico dos dois metais. O ideal é não usar parafusos em inox e garantir que o escapamento está bem isolado eletricamente. O revestimento de zinco nos parafusos comuns (galvanizados) além de proteger o próprio parafuso também protege a lataria, numa restauração é muito importante a troca de parafusos cujo zinco já acabou (eles tem vida útil!) pois a maior parte dos parafusos são fabricados em aços ligados, que normalmente possuem um potencial galvânico maior do que o da lataria, acelerando a corrosão do carro. O zinco funciona como protetor do aço pois seu potencial galvanico é mais baixo, fazendo com que ele seja corroído antes.;
- O uso de soldas em inox para deixar o carro mais "resistente" eu nem vou comentar, mas já vi fazerem;
- O chevette tem algumas arruelas de nylon que vão nos suportes do parachoque, elas tem a função de evitar que a tinta sofra pequenos danos durante o aperto do parafuso, se a pintura for danificada em regiões entre peças que formam "frestas", ocorre um processo corrosivo severo chamado "corrosão por frestas", onde o potencial eletroquímico dentro da fresta fica diferente devido ao consumo de oxigênio em seu interior, acelerando a corrosão;
- Quando se vai fazer um remendo na lataria do carro existem duas opções, cortar a chapa no formato do buraco ou um pouco maior fazendo uma chapa sobreposta. A primeira opção é mais difícil e mais demorada, no entanto, além da segunda exigir um monte de massa plastica, ela deixa um fresta entre as duas chapas, que vão gerar problemas de corrosão por frestas no futuro;
O que fazer para garantir que seu projeto vai durar até os seus netos (não a execução!)?
- Prepare muito bem a superfície a ser pintada, procure utilizar fosfatizantes como os wash primmers ou preparadores a base de fosfato de zinco, além de aumentar a aderência da tinta eles ajudam a tornar a tinta impermeável;
- Lave a superfície com um solvente compatível com a tinta antes de pintar (ou passar massa!), isso pode evitar que sobrem sais na superfície;
- Vede muito bem quaisquer frestas que possam existir na lataria. Use produtos flexíveis e utilize uma camada generosa (mas não muito grossa para não rachar!);
- Aplique revestimento por zincagem no que puder (evite parafusos de alta resistência como os cabeçote e de eixos, isso pode fragilizá-los!), qualquer falha na pintura será protegida pelo potencial do zinco que é muito mais baixo do que do aço;
- Não misture metais diferentes na lataria sem saber o que está fazendo, veja a tabela abaixo:
Só para constar, embora o alumínio sofra facilmente corrosão severa, ele sofre um processo chamado passivação. No caso do aluminio, esse processo se deve a formação de uma camada de oxido dura e impermeável que passa a protegê-lo como uma pintura, reduzindo o processo corrosivo pela falta de eletrólito.
Seguem algumas fotos de corrosão do meu chevette:
Essa é a tampa do diferencial, embora a pintura estivesse íntegra, removi a pintura com removedor pastoso e encontrei um monte de marcas de corrosão filiforme. Ela acontece sob tintas que são muito permeáveis (esmalte sintético comum é uma desgraça!) ou que sofreram pequenos danos ou riscos.
Para que já olhou do lado de dentro da saia do chevette deve ter sacado que essa corrosão nasce de uma fresta que existe entre ela e a chapa que a segura no carro. É muito difícil ver um chevette sem uma marca nesse lugar!
Esse ponto é causado pelo acumulo de água sob a borracha do vidro que além de tudo forma uma fresta. O interessante é que do outro lado o dano é muito parecido. O pior desses lugares é que o hidróxido formado costuma catalizar a corrosão.
Outro lugar clássico de corrosão no chevette, também causado pelo acumulo de água (eletrólito!). No caso já preparei uma chapa para soldar no lugar.
No vidro da frente o acumulo de água nessa região também é clássica. Nesse local, além da fresta com a borracha ainda existe a fresta do próprio aço.
Essa região onde vai o paralamas externo é protegida pelo zinco dos parafusos e chapa mola que o seguram.
Comprei varias arruelas de plastico e parafusos novos com chapa mola.
Saindo um pouco do assunto:
Essas são as próximas peças que vão para pintura a pó. O travessão está quase pronto faz tempo, mas cada vez que ia trabalhar nele achava um problema, agora acho que vai.
A corrosão que estava na parte superior da coluna do vidro dianteiro foi "soldada". Vai ficar melhor quando for lixada. Acredito que a corrosão foi causada por uma fresta que existia originalmente na emenda do teto com a coluna.
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